POEMA DO ESPÍRITO E DO VINHO
Que o meu espírito amadureça,
Que o meu espírito adquira a posse
Das suas próprias substâncias,
Das substâncias que estão nele prisioneiras e desconhecidas.
Que o meu espírito se obscureça,
Que meu espírito se estenda
No fundo do escuro
E cresça em silêncio
E avance no desconhecido.
Que o meu espírito seja castigado
Como as uvas e pisado no escuro
Como as uvas, que vão dar vinho.
Como as uvas que vão se transfigurar em vinho,
Que se vão realizar no vinho.
Que o meu espírito tenha o destino da uva
Que não apodreça jamais,
E que atinge ao fundo de seu destino,
E que se transforma na sua essência.
Que o meu espírito não seja corrompido
Pelas luzes do mundo,
Pela sedução das paisagens,
Pela própria poesia,
Que o meu espírito não seja corrompido.
Que o meu espírito não seja desviado
Do seu caminho e do seu destino,
Da sua humilde grandeza,
Da sua grandeza sem nome,
Pelo amor do mundo.
Que o meu espírito não seja enganado
Pela música, pela música terrível,
Que o meu espírito não se transforme em música.
Não se disperse na música, no sortilégio da música.
Salvai meu espírito da música, meu Deus!
Que meu espírito se obscureça
E que possa descer ao seu próprio mistério
E conhecer as suas fronteiras
E se iluminar no coração da noite,
Nas trevas noturnas!
Que o meu espírito não se perca,
Antes conheça o humilde destino das uvas,
Que se transfiguram e realizam
No destino comum do vinho,
Na obscuridade do vinho,
Na despersonalização do vinho,
Na riqueza simples do vinho,
No mistério do vinho,
Que é a própria essência do espírito
Que é o próprio espírito
Que é o sangue,
O sinal do sangue,
O espelho do sangue.
Que o meu espírito realize o destino obscuro e glorioso
Da uva que se não perdeu,
E que é uma parte do vinho,
Indistinta e anônima,
E que sendo uma parte do vinho
É parte também do próprio espírito!
Augusto Frederico Schmidt.
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