O HOMEM DE BORRACHA
Eu batia na minha infância
doze portas atrás de mim,
e o homem de borracha passava
pela brecha da fechadura.
Por todo lado aparecia
o detetive sem chapéu,
e utilizava uma goteira
como a chuva, para alcançar-me.
Caso eu morresse e ele quisesse
um menino já sepultado,
chegaria ao pequeno corpo
por um buraco de formiga.
Ocultava-me e, no verão,
ressurgiam os companheiros
de farda azul, que me chamavam
o tempo inteiro do jardim.
Quando um dia fugi de casa,
como a esperança, ele esticou
o braço fino para mim
e segurou-me no horizonte.
Alberto da Cunha Melo.
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