22 de outubro de 2009

O HOMEM DE BORRACHA



Eu batia na minha infância
doze portas atrás de mim,
e o homem de borracha passava
pela brecha da fechadura.

Por todo lado aparecia
o detetive sem chapéu,
e utilizava uma goteira
como a chuva, para alcançar-me.

Caso eu morresse e ele quisesse
um menino já sepultado,
chegaria ao pequeno corpo
por um buraco de formiga.

Ocultava-me e, no verão,
ressurgiam os companheiros
de farda azul, que me chamavam
o tempo inteiro do jardim.

Quando um dia fugi de casa,
como a esperança, ele esticou
o braço fino para mim
e segurou-me no horizonte.


Alberto da Cunha Melo.

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