26 de outubro de 2008

RIM BELO RUMO À VIRILHA*



Rim belo rumo à virilha escapa,
foge com a intenção de perfurar sentinas
ou de polir caninos entediados
na lenta escritura do deserto.

Rim belo rumo à virilha vocifera,
desatendendo sermões onde soam
os disparos da louca virgem,
seus gemidos de menina, suas lágrimas de cadela.

Rim belo rumo à virilha se incendeia,
descreve os suspiros da infiel abissínia
Seu peito atrai a pontaria dos dados.
Com saliva de ovelhas sua sede não se alivia.

Rim belo rumo à virilha se desliza,
cuspe os monarcas ladrões de fuzis,
maldiz as horrendas mães crepusculares,
o ouro na cintura o torna navegante.

Rim belo rumo à virilha manca,
nu, boquiaberto, sonhando com palácios azuis.
O tabaco do diabo transforma os relógios.
A pólvora em sua boca é um beijo sem lábios.

Rim belo rumo à virilha entardece.
Os pesadelos se disfarçam de cerdos insolados.
Saltam grãos de areia nas turbinas.
Quer vender sua alma, apodrecem seus dentes.

Rim belo rumo à virilha fecha os olhos.
Brisa de bananais refresca seu joelho.
A noite procura um farol onde cresça o impuro.
Sua cabeça raspada se parece com o destino.


* Jogo de palavras rein beau (rim belo), vers l'aine (rumo à virilha) que se pronuncia de igual maneira que Rimbaud-Verlaine.

Francisco Hernández.

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