31 de dezembro de 2006

A DIFERENÇA É QUE NÃO TEMOS OS ENDEREÇOS



A diferença é que não temos os endereços.
Pode ser que estejam até mais perto
esses nossos amigos mortos.
Pode ser que estejam nesta cidade, nesta rua,
nesta sala...
Mas não temos os endereços: essa é a diferença.

Não ouvimos mais suas vozes.
não recebemos mais suas cartas:
se ainda não nos esqueceram,
se ainda nos amam como outrora,
quem sabe? como o saberemos?

E quando sairmos agora do mundo,
virão, por acaso, ao nosso encontro,
como nos cais e aeroportos?
Estarão à nossa espera, abrirão os braços,
para nos receberem?

Ou teremos de procurá-los, melancolicamente,
cegos e suplicantes, como esses tristes mendigos
que batem palmas, que batem palmas
em cidades mal conhecidas
diante das grandes casas
de janelas e portas fechadas?


Cecília Meireles.


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