VOZES INTERIORES
Creio que dentro de ti soluça e chora alguém.
Pois dentro de mim também
Soluça e chora, quem?
Certo alguém dentro de mim chora e soluça,
Alguém sobre a minha alma a carpir se debruça.
Ah! plange dentro em mim a eterna voz do Além.
A trágica atração das tribos e das raças
No meu ser misturar-se e congregar-se vem.
Inquieto furacão que sem cessar esvoaças,
És o fluxo do Mal e o reuxo do Bem!
És o infindo desejo do Infinito,
És o infreme fremir pelas Eternidades,
O estarrecer da Vida insatisfeita, o grito
Do Ser e do Não-Ser através das idades.
Sinto o imenso clamor dessa maré montante
E esse crebro ulular enorme quem não sente?
No nosso espírito ele sobe instante a instante,
Como um facho de luz na esfera incandescente.
É o sofrimento humano a ansiar pela esperança,
Pobre cego a tatear nos dédalos obscuros,
É o apelo que não cessa, é o anelo que não cansa
Do passado a bramir pelos amplos futuros.
É o brado de quem vive e nada achou na vida,
É o pranto colossal e intérmino dos mortos
Que nos insta, que nos induz, que nos convida
A velas desfraldar para os sidéreos portos.
E este velho homem carcomido de luxúria,
Este sempre rebelde velho homem relapso,
Para que surge e clama e blasfema com fúria,
Fraco, a estrocer-se nesse espiritual colapso?
Ah! como não ouvir atento tantas vozes,
Que nos dizem no seu fantástico marulho
Quantas transformações, quantas metamorfoses
São necessárias para aniquilar o Orgulho.
E o Pecado sobre a minha alma se debruça
E vendo-me a tremer, quedo, pálido, exausto,
Geme dentro de mim, dentro de mim soluça:
- Dentro de ti soluça e geme o Doutor Fausto.
Severiano de Resende.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial