2 de março de 2008

VOZES INTERIORES




Creio que dentro de ti soluça e chora alguém.
Pois dentro de mim também
Soluça e chora, quem?
Certo alguém dentro de mim chora e soluça,
Alguém sobre a minha alma a carpir se debruça.

Ah! plange dentro em mim a eterna voz do Além.
A trágica atração das tribos e das raças
No meu ser misturar-se e congregar-se vem.

Inquieto furacão que sem cessar esvoaças,
És o fluxo do Mal e o reuxo do Bem!

És o infindo desejo do Infinito,
És o infreme fremir pelas Eternidades,
O estarrecer da Vida insatisfeita, o grito
Do Ser e do Não-Ser através das idades.

Sinto o imenso clamor dessa maré montante
E esse crebro ulular enorme quem não sente?
No nosso espírito ele sobe instante a instante,
Como um facho de luz na esfera incandescente.

É o sofrimento humano a ansiar pela esperança,
Pobre cego a tatear nos dédalos obscuros,
É o apelo que não cessa, é o anelo que não cansa
Do passado a bramir pelos amplos futuros.

É o brado de quem vive e nada achou na vida,
É o pranto colossal e intérmino dos mortos
Que nos insta, que nos induz, que nos convida
A velas desfraldar para os sidéreos portos.

E este velho homem carcomido de luxúria,
Este sempre rebelde velho homem relapso,
Para que surge e clama e blasfema com fúria,
Fraco, a estrocer-se nesse espiritual colapso?

Ah! como não ouvir atento tantas vozes,
Que nos dizem no seu fantástico marulho
Quantas transformações, quantas metamorfoses
São necessárias para aniquilar o Orgulho.

E o Pecado sobre a minha alma se debruça
E vendo-me a tremer, quedo, pálido, exausto,
Geme dentro de mim, dentro de mim soluça:
- Dentro de ti soluça e geme o Doutor Fausto.


Severiano de Resende.

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