PAIS PROFISSIONAIS, FILHOS ESPECIALISTAS

Ter filhos. A sentença anterior me faz suspirar. Nestas duas palavras há um universo interminável de contextos, abordagens, aspectos... Quando nos tornamos pais e mães, percebemos que aquele pedacinho da gente, trouxe com ele um mundo infinito de possibilidades e só então nos damos conta do tamanho da responsabilidade e da empreitada à qual nos propusemos.
Vi, certa vez, no jornal local da minha cidade, a foto de uma moradora de rua que pariu um filho na calçada, essa mãe já tinha outros três filhos, dois, nascidos nas mesmas condições. Essa lembrança me remeteu à outra matéria que li em uma revista semanal, sobre uma mulher de 52 anos que conseguiu ter um filho depois de certa terapêutica e de uma recusa de doação de sêmen pelo ex-marido, o que a fez recorrer ao banco de esperma. Como será o futuro desses dois bebês, vindos ao mundo de forma tão peculiar? Provavelmente, peculiar, você pensaria. Então será que a vida de nossos filhos trazidos ao mundo de forma, mais “normal”, será garantidamente “normal’?
Os pais trabalham, põem os filhos na escola, levam ao shopping, cinema, compram brinquedos, colocam na cama no fim do dia. No açodamento do dia a dia, fazem o melhor que podem, sabemos. Estamos sempre preocupados com o pouco tempo e com a quantidade de informações que precisamos passar aos nossos filhos. Parece que não vai dar. O tempo voa e logo eles têm que decidir a profissão, escolher com quem vão se casar, e construir o próprio patrimônio.
Certo, e a escola está aí para isso. Errado. As brincadeirinhas da pré-escola, a teoria do ensino fundamental e médio e a grade dos cursos universitários não preparam o jovem para a vida como ela é. A família é quem pode fazê-lo. Diz-se que a educação começa em casa, mais que isso, quando um filho nasce temos em nossas mãos uma rosada massinha de modelar, que vai se moldando a partir dos estímulos que recebe ou não recebe. Experimente deixar uma dessas massinhas escolares em cima de uma mesa, por exemplo, por um mês. Ela vai continuar do mesmo jeito, conservando o seu formato inicial, pior ainda, vai ficar cheia de fungos e bolores, possivelmente se cristalizará e ao menor toque vai se quebrar inteira.
Pronto. É isso o que acontece quando deixamos nossos filhos crescerem feito capim. É necessário que adicionemos continuamente conteúdos ao seu desenvolvimento, e não somente o dizer “obrigado”, ”por favor,” e “com licença”. Educar e formar um futuro homem ou mulher consiste em prepará-lo para a vida em constante mutação, ensinar a olhar criticamente, ponderando os valores existentes, construindo assim sua individualidade. É instruir o filho nos aspectos emocional, espiritual, cultural, financeiro, comportamental, legal, ético, profissional, global e pessoal. Formar um cidadão completo e bem trabalhado em sua essência facilitará o seu aprendizado futuro e ampliará sua capacidade de discernimento e adaptação.
Muitos profissionais talentosos saem com ótimas notas da faculdade, sabem tudo sobre a profissão, mas não sabem trabalhar, pois não estão acostumados com a rotina e a problemática de uma empresa. Outros conseguem trabalhar, mas não têm inteligência financeira e não prosperam. Alguns têm dificuldades quanto ao seu quociente emocional. Esses códigos sociais precisam ser introduzidos ainda na infância para que no futuro o jovem possa lidar com problemas do cotidiano de forma natural e não se sintam esmagados pelo peso das vicissitudes.
Elaborar bem um ser humano não é coisa fácil, porque não sabemos nem se nós mesmos fomos bem elaborados, mas podemos apreender sempre conteúdos novos que não trazemos de berço com a vida e tentar passar o melhor da gente aos nossos filhos. Temos que encarar a nossa missão de pais e formadores com todo o profissionalismo e dedicação que aplicamos em nossos trabalhos, pois os filhos não herdam somente o patrimônio de riquezas ou dívidas dos pais, mas herdam também o capital intelectual e emocional ao que tiveram acesso na formação de suas bases.
Liliam Bölner.
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