TINTIM
Entre a noite e a aurora, nalguma hora em que vaga a mente
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e vê o que foi sem ter sido,
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noutras noites, a bordo daquele cargueiro rangente,
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na Filipina distante, ou nalgum porto, no Pacífico imenso,
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pedras do calçamento molhado rebrilhantes à luz da lua,
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meandros de ruas e casas à fraca vela dos postes,
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ninhos de putas às portas dos bares em que nunca estivemos,
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sombras e luzes e o girar lento das palmeiras e das pás de vento
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pendentes no teto descansando, banhando-se nas fímbrias
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e nas réstias de luz por entre cortinados de bambu,
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e a fumaça de milhares de cigarros vagabundos misturando-se
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aos perfumes molhados da selva e das veredas tropicais sob as estrelas;
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e embarcávamos resolutos nalgum navio de ferro
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e homens suados em que não fomos
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tatuados de amor e morte entre calados sábios papagaios,
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sinais de rádio e de telégrafo,
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carcaça balouçante entre as ondas e o praguejar do cozinheiro,
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relâmpagos e trovões oceânicos rugentes
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sobre os lamentos cavos das vagas a nos tragar
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e a nos vomitar um dia nas calmarias e no sal do mar,
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a nós inebriados do sal lambido dos sovacos das cadelas das bairas dos cais
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a naufragar-nos dentro da goela macia da baleia,
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entranhas de mobydick e matahari,
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sexo dos contrabandistas e dos piratas
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e nada além de uma página de pergaminho virada encharcada
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coberta de nada,
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e significando tudo.
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Luiz Augusto Kehl.
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