15 de abril de 2008

O RAPAZ MÚMIA



Não era róseo e suave
com um umbigo arredondado;
era rijo e todo oco,
um rapaz, mumificado.

"Diga-nos Doutor, por favor,
o que é que está na base
do nosso rebento de amor
ser um novelo de gaze?"

"A resposta à vossa pergunta
jaz, sepultada no pó:
o vosso filho é o resultado
da praga de um faraó."

Marido e mulher discutiram
aquela situação ilógica,
chamando-lhe "enjeitado
de uma expedição arqueológica."

Pensaram numa explicação
científica e cabal,
mas concluíram que não passava
de reencarnação sobrenatural.

Com os outros garotos
só brincou duas vezes:
de um antigo ritual
de sacrifício virginal.
(Mas os pequenos fugiram chamando-lhe de anormal.)

Sozinho e rejeitado,
o Rapaz Múmia chorou
e depois, esfomeado,
na cozinha entrou.

Limpou os olhos molhados com as mangas mumificadas
e sentou-se frente a uma taça de folhas secas cristalizadas.

Num dia escuro e sombrio,
surgido do nevoeiro,
apareceu-lhe um cachorro múmia
por demais festeiro.

Tratou o bicho de estimação
com muita amabilidade.
Construiu-lhe uma casinha
digna da Antiguidade.

Já ficara escuro,
estava o dia no fim;
o Rapaz Múmia levou o cão
pra passear no jardim.

O jardim estava vazio,
sem contar com um esquilo
e um grupo de mexicanos
numa grande festa de anos.

Os meninos e as meninas corriam num tropel,
mas repararam naquela coisa, tipo pasta de papel.

"Olhem, é uma piñata",
disseram todos contentes
"vamos rachá-la ao meio
para vermos os presentes."

Pegaram num bastão
para lhe abrir a cabeça.
O Rapaz Múmia caiu
enfim, morto no chão.

Dentro de sua cabeça
não havia doces nem presentes;
só umas quantas baratas
de tamanhos diferentes.


Timothy William Burton (Tim Burton).

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