31 de dezembro de 2006

O ÚLTIMO POEMA



Chegará o dia do último poema
E o último sairá para o tempo tranqüilo e natural,
Sem nenhuma melancolia, como se fosse o primeiro nascido
Do espírito inquieto.

Chegará o dia do último poema
E o último poema será simples e modesto
Como se fosse um dos muitos da longa série inútil.
No entanto, será o último,
Será o derradeiro,
A última canção.
Sobre a voz que se foi e cantou
Será o último som interrompido, subitamente,
Quando tudo precisa indicar a vinda de outros sons,
E que eles caminharam pela estrada
Como raparigas imaginárias enfeitadas de flores,
Formando a grande música.
Será o último poema e sobre a voz estrangulada
O mármore gracioso e resistente.
Será o último poema e ninguém perceberá
Que a morte está nele e o domina
Como se ele fosse uma rosa no seu último instante de plenitude,
Viva e perfeita,
Mas prestes a se desfazer no soluço final.
Será o último poema e ninguém sentirá
Que o silêncio absorverá para sempre a poesia poderosa,
Que o poeta está morto
E que esse poema é um poema
Nascido de uma força perdida,
A última lágrima indiferente que desceu de olhos sem vida,
Luz que veio caminhando pelo espaço, originária de uma fonte morta.

O último poema será um poema perdido entre muitos poemas
Como uma flor perdida, como um sorriso breve,
Como uma fisionomia desconhecida que um instante fixamos e que vai desaparecer
Para sempre na terra, na distância e na morte.


Augusto Frederico Schmidt.


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