11 de julho de 2006

LIVRO DE PRÉ-COISAS


Andava atrás das casas, como um corgo urbano, entre latas podres e rãs.
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Sorna lagarta curta recorta a roupa de um osso.
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Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.
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Se no tranco do vento a lesma treme,
no que sou de parede a mesma prega;
se no fundo da concha a lesma freme,
aos refolhos da carne ela se agrega;
se nas abas da noite a lesma treva,
no que em mim jaz de escuro ela se trava;
se no meio da náusea a lesma gosma,
no que sofro de musgo a cuja lasma;
se no vinco da folha a lesma escuma,
nas calças do poema a vaca empluma!
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Vagalumes driblam a treva.
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Esse jarro aromal e seus vermes cor de vinho!
(A avidez do obscuro é que estorva.)
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Pois o que disse Joyce foi que o arame farpado quem inventou foi uma freira, para amarrrar na cintura dela quando viesse a tentação.
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Essa abulia vegetal sapal pedral - não será de ele ter sido ontem árvore?
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Um canteiro de larvas estrábicas, o brejo.
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Baratas glabras se fedem nas dobras.
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Flores engordadas nos detritos até falam!
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De tarde, iminente de lodo, ia sentar-se no banco do jardim. (Diminuíram o seu jardim de 40 roseiras e uns vermes.)
Lesmava debaixo dos bancos. O homem sentia-se em ruínas: um lanho em vez de torso era sua metáfora.
As ruínas só serviam para guardar civilizações e bosta de sapo.
Amava caracóis pregados em palavras.
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Manoel de Barros.
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