8 de abril de 2007

O PESADELO



O despencamento das tristes janelas saciadas
Três crianças aladas sem dentes sem parentes
E foste em direção ao mundo pequeno mais pequeno do mundo
Nada como o sol da borboleta dourada no quarto escuro
E na Persistência da Memória a mulher que grita em direção à minha cama
A parede derrete no meio do pesadelo transpirado
Eu rasguei mil e uma bíblias no último mês
E desfaleci como derreteram as geleiras no mar rasteiro
No rasteiro caminho que rastejo rasteiro
Sou parco
Parco parco parco
Escasso como os naufrágios -
Menos robusto que o mínimo de tudo
E tão pesado nas paredes leves
Que leves
Não sejam tão ingênuos, obcenamente resignados
Por sobras mal cheirosas de pensamentos mal cheirosos
Três crianças aladas sem dentes sem parentes
Rindo de quatrocentas borboletas enfermas
Quatrocentas borboletas enfermas transpiradas nos lençóis
Parco parco parco parco
Distorcido e fulminado como a tragédia
Risos
Risos e mais risos da minha insônia passageira
Da minha criatividade passageira
Do meu tesão passageiro e fugaz como orgasmo
Parco Riso
Influência das coisas entorpecentes
E de todos os barulhos, barulhos, barulhos
Os ruídos sonoros das cidades que derretem
Crianças aladas
Borboletas parcos suores
Absolutamente nada

Francisco Soares.

FORMAS DE DESPERTAR


Só aqueles que não amam
ousam assim me despertar:
como se a manhã desejasse
erguer-se junto com meu ódio.

Naqueles tempos, minha amada
nunca me despertava assim:
em silêncio lavava o rosto,
por acaso me despertava.

Mas sempre desejando um tempo
que só viria depois dela,
fui um vagão de peixes mortos
entrando lento na cidade.

Quem chegar ao seu ponto alto
deve ali cavar o seu túmulo:
disseram-me, ou melhor, gritaram-me,
quando me dispunha a subir.

Este lugar, visto de longe,
ainda parece uma ladeira
fácil, dividida em degraus:
nem precisa ser destruído.


Alberto da Cunha Melo.