AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e invento exclamações alegres,porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a rouba de mim.Carlos Drummond de Andrade.
ESTA IMPACIÊNCIA QUE ME DIVIDE
Esta impaciência que me divideesta melancolia que me entonteceeste desejo pungente de estar um pouco em toda parteesta incapacidade de aquietar-meeste sonho de ser, de ser depressa, ates da mortede ser o quê?de concluir que destino longamente esperado,entrevisto na bruma de dias não vividos,no sonho de noites calmamente extintas?- de ser extritamente o servidor adequado,o mensageiro que entrega a mensagem no exato instanteo servidor que dá conta de seu trabalho no prazo certoo que houve o chamado e vai,recebe as ordens e cumpre,e dá todos os dias de seu tempo humanopara esse fim obscuro,e está continuamente correndo por dentro de si,em varandas, passadiços, subterrâneos,apenas entrevendo em adeuses a estrela que ama,o pássaro que comove,a extensão da terra iluminada, do mar imensopor onde, entre suas tarefas,suspiro, saudade, esperança, obediência, renúncia,em pensamentos foge,em pensamentos volta,subitamente enfermo da culpade assim fugir,de assim voltar.Cecília Meireles.