10 de agosto de 2006

JÚPITER E A RAPOSA

. o macaco é sempre macaco.
.
Nenhuma condição muda a baixeza
De quem é torpe e vil por natureza.
.
.
Foi o caso que, um dia,
À Raposa deu Jove a forma humana,
Colocando-a num trono soberana,
Com toda cortesia.
Nest'alta posição, viu a rainha,
Surgir a um canto, donde ela vinha,
Um vil Escaravelho:
Não pôde-se conter;com ligeireza
Vezeira, se atirou à imunda presa,
Sem guarte nem conselho.
Riram-se os deuses. Júpiter, corando
De um passo tão servil como execrando,
Do trono a repeliu,
Mandando que descesse em continente
Do sólio profanado; e nobremente
Destarte prosseguiu:
- " Vive como mereces. Com certeza
Teu baixo instinto e torpe natureza
Não podem consentir
Que gozes dignamente dos favores,
Que houvemos, apesar dos teus pendores,
Por bem te conferir."
.
.
.
Fedro.
.

INÚTEIS SEMENTES



Não há raposa que disfarce a pele,
Não há ladrão que não encontre a cruz,
Não há mentira que não venha à luz,
Não há segredo que não se revele.
.
Não há punhal de brilho disfarçado.
Todos os crimes têm sua testemunha.
.
Não há arranhão que não acuse a unha
Nem traição que não aponte um lado.
.
Não há na vida nada que se oculte,
Nem morto existe que não se sepulte
Sob esta terra rígida e inclemente.
.
E não há verme que rejeite os restos
De mentirosos seres desonestos
Que não se prestam nem para semente.
.
.
.
(Silvia Schmidt).
.