9 de junho de 2006

MASCARADA



- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
Que a paixão dos homens
(Estranha paixão!)
Fazia maiores...
Fazia infinitos.
Diz: não me conheces?
- Não conheço não.

- Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
À tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia...
Era a minha fala
Canto e persuasão...
Pois não me conheces?
- Não conheço não.

- Choraste em meus braços...
- Não me lembro não.

- Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes

Te despedaçaram!
Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?

- Não conheço não.
Conheço é que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço é que a vida,
A vida é traição.


Manuel Bandeira.

LET THE SUN SHINE IN... BORA!!!

Agradeço a sua visita. Defino esse blog como filosófico-cultural-eclético, pois posto nele, despretensiosamente, textos, citações, frases, crônicas, parábolas, fábulas, trechos de livros e músicas, máximas, aforismos, e acima de tudo POESIAS, não só as clássicas e contemporâneas, mas outras que inclinam ao noir(spleens), ao underground, as sombrias, obscuras e as pouco convencionais - sempre sem quaisquer comprometimento com padrões de estilo, autoria ou cronologia. Gostaria de salientar, que os conteúdos postados neste blog, não refletem essencialmente minha maneira de pensar, no sentido filosófico, social, religioso/espiritual ou mesmo ético/moralista. Por exemplo, posso postar um Lautréamont, e discordar éticamente, religiosamente, e claro, psicologicamente de tudo o que ele escreveu. Mas há beleza em sua poesia maldita, em seus Cantos, indiscutivelmente. Nem por isso vou deixar de postá-lo. Então, não espero com essa minha forma de externar minhas neuroses (quem não tem vontade?), provocar qualquer levante de quem quer que seja (zombie = brain+shots!) muito menos buscar notoriedade, mas este é o meu aquário, e o que quer que eu transcreva nele é a qualidade da comida com a qual eu alimento os peixes. E juro que acredito que ainda existam peixes pré-históricos, já que sabemos que muitos ainda nem foram descobertos... Capicce?
No demais, faço isso por prazer, o prazer de encontrar uma poesia traquina, uma letra desapercebida, um texto velho (velho para mim cara-pálida), ou algo que venha naquele momento tirar a minha (e talvez?) a tua alma da superfície, resgatá-la de um amor perdido, de uma dor lancinante, de uma saudade profunda, no idolatrar da sedosa pele de pêssego e no farto seio de uma ninfa, e enfim, mergulhar no abissal vulcão de uma quase insuportável, mas desejável e dolorosa, nostalgia perfumada....
Acho que Isidore Ducasse (sob o pseudônimo de Comte de Lautréamont), quando escrevendo sobre o maldito personagem de Maldoror, só bendizeu em uma coisa, quando pois na boca do piolhento:
"Mas ficai sabendo que a poesia se encontra em todo lugar onde não estiver o sorriso, estupidamente zombeteiro, do homem, com cara de pato."
Guardo isso comigo. E sou bem limpinho.