22 de junho de 2006

OLINDA WISCHRAL



pessoas deviam poder evaporar quando quisessem
não deixar por aí

lembranças pedaços carcaças
gotas de sangue caveiras esqueletos
e esses apertos no coração
que não me deixam dormir

+ + +

misto de tédio e mistério
meio dia/meio termo
incerto ver nesse inverno
medo que a noite tem
que o dia acorde mais cedo
e seja eterno o amanhecer
+ + +
arte que te abriga arte que te habita
arte que te falta arte que te imita
arte que te modela arte que te medita
arte que te mora arte que te mura
arte que te todo arte que te parte
arte que te torto ARTE QUE TE TURA


Paulo Leminski.

O VERBO NO INFINITO



Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para pode chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...


Vinicius de Moraes.

MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO

Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.


Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.


Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.


Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.




Cecília Meireles.