30 de setembro de 2006

ENVELHECENDO



Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,
À proporção do mal, do bem à proporção.

Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.
E não sei onde o mal e o bem me levarão.

Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?

Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.


Emílio de Menezes.

PLATAFORMA



Algum amigo, talvez o único,
aconselhará o combate:
mude de amigo se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.

Da amada nem se fala, tudo
que ela deseja é para si:
mude de amada se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.

A poesia não é mais feita
de água, de colírio indulgente:
mude de verso se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.

Diante do nascente alugam-se
espaços claros e andorinhas:
mude de casa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.

Uma terça parte dos anjos
já veste túnicas vermelhas:
mude de roupa se não pode
mais, nunca mais, mudar de vida.


Alberto da Cunha Melo.