11 de setembro de 2006

TE ABRAÇAR


Quero abraçar teu corpo, como rio de corredeira,
Molhar cada pedra, umedecer cada praia,
Entrelaçar meus dedos entre tuas pernas
Como serpente d'água a se esconder na areia.
Quero beijar teu corpo como o vôo da águia
De olhar distante e planar suave
E pousar em teus seios com o hálito fresco
Como se fosse um ninho de eternidade
Quero saudar tua vinda, como vento sertanejo
Firme, forte e com o perfume seco da serra.
Promessa de chuva na aurora do tempo
Para inseminar de vida os sulcos da terra.
Quero penetrar tua vida, como fogo de lareira
Queimar cada tora, arder cada chama
Consumir-te inteira como os troços de madeira
Para que sobres apenas em minha memória.
Quero morder tuas carnes, como animal faminto,
Desesperado, aflito, sedento, proscrito
Beber teu sangue em comunhão de espírito
Para tornar-te, assim, meu único delito.
Quero por fim morrer entre tuas cobertas
Saciado de sexo entre tuas entranhas
Meu corpo rígido, frio, morto de infarto súbito
Terá por fim, em ti, se tornado único.
.
Lorenzo Madrid.

LIÇÕES TARDIAS



Não devemos aprender a esperar.
Devemos, sim.
esquecer as coisas esperadas.
Ainda que nos digam:
"espere-me, à tal hora, em tal jardim",
o jardim nos deve bastar.
Que a chegada daquilo
que nos fez esperar
seja algo normal naquele mundo,
como a morte de uma borboleta
ou a fuga de um lagarto nas pedras.
Se nada chega,
se ninguém aparece,
não notaremos a sua falta.


Alberto da Cunha Melo.