16 de setembro de 2006

À UMA TAÇA FEITA DE UM CRÂNIO HUMANO



"Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás — pobre caveira fria —
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
— Taça — levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do reptil.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor aí repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!... "



Lord Byron.



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TODOS OS VERBOS, TODOS OS VERMES



Compreender é uma vontade como a morte é uma compreensão. A morte nos empurra a entender que há o silêncio e o musgo, e desse vazio que se move o desejo de ser que é o desejo de saber, como um verbo. E os vermes estão cheios de desejos. E ser conjuga-se com todos os verbos. O que falam os verbos? Senão falar, fazer, dizer, o que fazem os vermes? Bem... isso ainda começastes a compreender. Tudo bem, há mais frases para dizer do que todas que já foram escritas. E isso é possível, basta gritar para atravessar aquele rio, e perguntar ao além se dá vau. Todos os verbos fazem o homem e nenhum será ele. A escrita é o simulacro de Deus. É um verme como o verbo que apodrece em ruído e cheiro nauseantes, da nave, essa nau, a podridão, que nos leva de onde viemos, o lugar do Nenhum.


Benilton Cruz.