UM OLHAR PARA A IMORTALIDADE

Para Nazarethe Fonseca
Não entendia no começo.
Achava graça a naturalidade com que falava da alma,
Como se fôssemos crianças falando de histórias imaginárias.
Juro que tentava,
Mas não conseguia entender o brilho em seus olhos,
As palavras que fluíam de sua boca.
E a certeza que emanava de sua alardeada condição.
Não, eu pensava.
Ela não deve estar em seu perfeito juízo,
Ou gosta de brincar,
Talvez vivendo como um personagem de sua ficção.
Ria por dentro,
E embarcava na conversa como num grande sonho,
Um sonho no qual eu não me preocupava se era real,
Ou se teria algum sentido.
Não percebia o óbvio.
Que na cabeça dos poetas,
Os limites são linhas estreitas,
E que não importava muito,
Se a realidade em questão era mesmo concreta,
Ou que tanto fazia se acreditassemos no que bem entendessemos,
Desde que com isso,
A nossa ânsia vital passasse a ter algum sentido,
E as nossas respostas não precisassem mais ser tão milimétricas,
Bem ao rigor do tocar com os dedos dos céticos.
Foi assim que fiz então a descoberta.
Que o que antes haveria de ser explicado,
Tornava-se muito mais vigoroso quando era sentido,
Como se, ao sentir o cheiro,
Fosse inutilizada a leitura de mil livros.
Tive a minha resposta.
Percebi que a imortalidade, minha cara,
Faz parte dos olhos dos que assim a sentem.
Fernando N.