16 de junho de 2007

CAMERA OBSCURA


Talvez, porque
No pacote das fotos
Por convenção
O uivo é mudo e
Bloqueado o curso
Na suspensa evolução,
Atrás, à frente
Tudo já se passou
E ali é checado
Com mínima distância,
Méritos e culpas
Embaixo do cristal.
Os vivos estão mortos:
Colhidos em ausência
De estatuto, no ato
De descer sem portos
Porém com suas partidas
E chegadas.
Os mortos estão vivos.

A sombra do rosto
A imagem refletida
A esteira que se sucede
A pegada que acaba
Sob o vidro...
A projeção de uma vida
Que a precede
Permanecendo atrás.

A cifra, dada,
E perdida, misteriosa
De um ser a
Cavalo, dentro e
Fora: o eu dominado
Por um todo absoluto
E indiferenciado...
Os traços de um
Discurso em si extraviado,
Perdido, deslizado
No declive do
Tempo fulminado

O objeto que se
Ofereceu à objetiva
Comprimido e distante.
À morte condenado,
E no entanto ali suspenso
Por tempo indefinido
Desenhado, por absurdo,
Em seu ser estendido.
O ato falho.


Paolo Ruffilli.