14 de agosto de 2015

MINHAS MORTES ANTES DO PÂNICO


Estava vendo a tv, passava um programa de culinária. O chef colocou uma barra de manteiga para derreter na frigideira quente. Dava para ver a fumaça e a espuma da manteiga se derretendo. Não passava nada pela minha cabeça naquele momento. De repente, eu senti uma pontada no estômago, de enjôo e náusea, eu olhava pra tv e minha barriga começava a gelar. Olhei de novo para a tv e para os lados, vertia água de minha boca, percebi que começou a formigar as pontas dos meus dedos, tentei dar uma golfada mas o meu estômago estava vazio. Meus batimentos se aceleravam absurdamente.Dei um murro pro alto, tentando escapar desse estado insano que tomava conta de minha mente e corpo, nisso senti gelar a minha barriga, e daí por diante, meu corpo mole, caiu no chão, como se a morte acabasse de chegar. Senti o taco de madeira gelado na minha cara, não conseguia me mexer. Vi uma luz branca como uma raio. Gritava deitado, e tentei novamente vomitar o que não tinha em meu estômago, fiz isso por muitos minutos, numa mistura de vômito e choro desesperadora, onde sentia meu corpo amortecido e gelado, nisso eu já tinha perdido totalmente minha noção de vida, espaço, tempo ou dor. Aquilo era a morte, e pronto, não tinha mais para quem gritar. A dor da alma nestes breves minutos se torna insuportável e torturadora. O sentimento era de que eu estava morto. Molhado, meus batimentos cardíacos aceleradíssimos, meu ouvido zumbindo (não conseguia ouvir ou me atentar a nada) e meus pés e mãos estavam retraídos. Esse sentimento, que acho que a melhor tradução seria viver por dez minutos seguidos recebendo constantemente a mensagem de que a sua mãe acabara de morrer, é o que melhor traduz uma síndrome de pânico. Vivi (morri?) isso algumas vezes em minha vida. Hoje eu vivi isso de novo. Foi mais uma morte que eu tive. Mais uma morte antes do pânico. Quinze minutos depois, 2 mg de Alprazolam colocaram fim na fúnebre sensação. Mais um calo na alma, e o medo que fica de saber quando será que virá a próxima crise. Com terapias e medicações, elas vão se espaçando, e ficando mais raras, mais em situações em que vivemos extremo estresse, ela pode ser desencadeada a qualquer momento, e ainda traz na bagagem uma depressão junto. Aí, o gatilho pode disparar ao assistir um simples programa de culinária.