14 de julho de 2010

A UM PIOLHO



1.
Oh! onde vais, criaturinha rastejante?
Tua impudência te protege fortemente,
Só te posso dizer que estranhamente
Andas em gaze e renda,
Embora, oh Deus! tema que hás de jantar
Num tal lugar.

2.
Oh tu, animalito feio, malfazejo e andejante,
Detestado, desprezado por pecadores e santos!
Numa dama tão fina, como ousas
Pousar o pé!
Some daqui e procura teu jantar
Na tua ralé.

3.
Fora! vai rastejar nas têmporas de um mendigo,
A arrastar, estirar e escarrapachar as patas
Pulando no gado, entre teus semelhantes,
Em grupos ou enxames;
Onde chifre ou osso jamais perturbarão
Tua vasta plantação.

4.
Agora, queda-te aí! estás fora de vista,
Firme e confortável sob os ornamentos;
Não, por minha fé, não ficarás contente
Enquanto não te alçares
Ao píncaro, ao ponto mais elevado
Do chapéu de madame.

5.
Homessa! ousas mostrar o focinho,
Como uma groselha, cinzento e roliço:
Oh, uma pasta mercurial e pestífera,
Ou algum pó vermelho mortífero
Em tal dose te daria, que a catinga
Do teu traseiro consertaria!

6.
Surpresa não me faria te encontrar
Na touca de flanela de uma velha;
Ou talvez nalgum moleque maltrapilho
Em sua jaqueta;
Mas no elegante Lunardi de madame pousar?!
Como ousas? Fora!

7.
Oh, Jenny, não vira tua cabeça
A pavonear e exibir tua beleza!
Mal imaginas a maldita presteza
Com que este ínfimo ser rasteja!
E já de seus olhos odientos e agudas garras
Começas a te aperceber!

8.
Oh, se algum Poder nos concedesse
Vermo-nos a nós como nos vêem!
Nos livraríamos de tantos vexames,
E tão falsas impressões:
Sem mais nos exibir com gestos e roupagens,
Até nas devoções!


Robert Burns.